SAIU: CONFIRA O RESULTADO DO PRÊMIO.DOC
- ombu produção
- 9 de set.
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Além da premiação principal, também três menções honrosas foram dadas para projetos de preservação audiovisual. Conheça os selecionados no texto abaixo!
Por Renan Bernardi
O resultado do Prêmio.doc, premiação vinculado à terceira edição da Mostra.doc, foi divulgado na última quarta-feira, dia 03/09.
Selecionados entre 17 propostas, vindas de quatro diferentes regiões do Brasil, os vencedores receberão um aporte financeiro de R$ 15.000,00, além de uma consultoria e acompanhamento do projeto com Hernani Heffner (conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o MAM-Rio) durante o período de três meses.
O resultado e o processo de seleção que levou até ele serão formalmente compartilhados com o público presente na mesa de abertura da Mostra.doc, que acontece em outubro de 2025, na cidade de Treze Tílias (SC).
Lá, entre outros dados e comentários, serão apresentadas informações como as nove cidades de onde as propostas foram enviadas, sendo elas as catarinenses Florianópolis, Forquilhinha e Joinville; além de Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Santa Maria/RS, Curitiba/PR, Praia Grande/SP e Recife/PE.
Projeto premiado
Com o título "Projeto de digitalização dos filmes Novelo, A Via Crucis e Olaria", inscrito por Andrey Santiago e Eduardo Fernandes, a proposta selecionada pelo Prêmio.doc tem o objetivo de digitalizar os filmes Novelo ( de 1968), A Via Crucis (de 1972) e Olaria (de 1976), produzidos pelo Grupo Universitário de Cinema Amador (GUCA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) de Florianópolis/SC. Vinculados à mesma universidade, Andrey e Eduardo são graduandos do curso de Cinema, e foi por lá que tiveram contato com o professor Henrique Luiz Pereira Oliveira, fundador do Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som (LAPIS) da UFSC e orientador de Sissi Valente, estudante que uma pesquisa sobre os filmes do GUCA e também serviu de referência para o projeto.
"Fiquei sabendo do Prêmio.doc através da divulgação pelas redes sociais de Adriane Canan, diretora do filme Eglê, que foi entrevistada durante meu Trabalho de Conclusão de Curso na graduação de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina", nos conta Andrey, que continua falando sobre o envolvimento dele e de Eduardo com o projeto vencedor:
"Meu TCC trata-se de um documentário sobre o primeiro filme de Santa Catarina, o longa-metragem O Preço da Ilusão, com direção de Nilton Nascimento, produção de Armando Carreirão e roteiro por Eglê Malheiros, Salim Miguel e Emanoel Santos, lançado em 1957.”
“Quanto à construção do projeto, eu e Eduardo entramos juntos no Cinema UFSC no ano de 2020, tendo interesses em comum pela história do cinema brasileiro. Em 2024 realizamos a disciplina Preservação Audiovisual, conduzida por Cândido Gazzoni, técnico em preservação audiovisual do Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina (MIS–SC), onde pudemos compreender a situação atual da preservação audiovisual no Brasil e no nosso estado. A disciplina foi muito importante para despertar em nós a possibilidade de elaborarmos um projeto de preservação audiovisual em conjunto. Após eu ver a publicação do Prêmio.doc, entrei em contato com Eduardo para iniciarmos um processo de elaboração da proposta para o edital.”
“Em nossa reunião sobre as possibilidades de projetos que poderíamos desenvolver, a principal ideia que tivemos foi de restaurar e digitalizar os curta-metragens do Grupo Universitário de Cinema Amador (GUCA) da UFSC, as produções de cinema em Santa Catarina seguintes ao lançamento de O Preço da Ilusão. Trata-se de três curta-metragens experimentais filmados em Florianópolis e São José, entre 1968 e 1976. O primeiro curta é intitulado Novelo de 1968, com direção de Gilberto Gerlach e Pedro Paulo de Souza, o segundo é intitulado A Via Crucis de 1972 , com direção de Nelson dos Santos Machado e Deborah Cardoso Duarte e o terceiro, Olaria, de 1976, com direção de Nelson dos Santos Machado e Deborah Cardoso Duarte.”
Andrey também aproveita para falar sobre como, nessa pesquisa para o projeto, o pioneirismo do GUGA em relação ao cinema e a atuação de mulheres nos filmes se destacam na história do grupo. "Como não encontramos dados sobre os filmes no MIS-SC, sejam suas cópias ou informações detalhadas, realizamos uma pesquisa sobre o destino dos filmes e encontramos os trabalhos da historiadora Sissi Valente, integrante do Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som (LAPIS) da UFSC, que realizou extensa pesquisa sobre o GUCA. As informações obtidas pelo importante trabalho de Sissi Valente nos levaram até o professor Henrique Luiz Pereira Oliveira, fundador do LAPIS UFSC, que nos ajudou a entender o paradeiro dos filmes. Todos os três foram depositados na Cinemateca Brasileira durante o início dos anos 2000, por meio de uma iniciativa do LAPIS UFSC. Dialogamos então com a Cinemateca e confirmamos a existência dos materiais no local, a partir disso, começamos a elaboração do projeto de maneira ativa, realizando orçamentos e procurando mais contatos relacionados aos filmes e ao GUCA."
"Algo importante a se destacar é que durante minha pesquisa para meu TCC sobre O Preço da Ilusão busquei me aprofundar sobre a participação das mulheres no cinema catarinense, depois de examinar a história de Eglê Malheiros como a primeira roteirista de cinema de Santa Catarina. Ao realizar minha pesquisa sobre a história do cinema catarinense, encontrei informações sobre Edla von Wangenheim, que realizou filmagens do cotidiano de Florianópolis entre a década de 20 e 40. Após Edla, em contato com o historiador Angelo Corti do Grupo de Pesquisa CLAC (Cinemas Latino-Americanos e Caribenhos) da UFSC, constatamos que a primeira mulher a estar na direção de uma produção de cinema narrativo em Santa Catarina seria Deborah Cardoso Duarte, que co-dirigiu dois dos três filmes do GUCA e pode ser considerada a primeira diretora de um filme narrativo em Santa Catarina, se tornando uma pioneira na produção audiovisual catarinense."
Finalizando nossa conversa, Eduardo, outro responsável pelo projeto vencedor, afirma que “essa foi uma conquista histórica, pois um edital como esse democratiza o acesso à preservação e permite que qualquer pessoa — seja um cineasta, uma família com material antigo ou um produtor independente — tenha a chance de resgatar e valorizar sua memória fílmica, independentemente de quando foi realizada. Infelizmente, essa iniciativa só nos aconteceu uma vez até agora. E é exatamente por isso que o Prêmio.doc se torna tão relevante.”
Menções honrosas
Além do projeto de Andrey e Eduardo, a comissão de avaliação do Prêmio.doc também atribuiu três menções honrosas, reconhecendo a qualidade e a relevância dos trabalhos apresentados e oferecendo para estes serviços de digitalização e consultoria gratuitas para três projetos de digitalização de magnéticos através do apoio da Cinemateca do MAM-Rio.
Uma das menções foi concedida ao projetos "Paisagem sonora do carvão: Memórias que se ouvem, preservação da Coleção 'Memória e Cultura do Carvão'", proposta por Liziane Acordi Rocha e que busca a preservação, conversão e catalogação das entrevistas gravadas em fitas K7 que integram a coleção - atualmente salvaguardado pelo CEDOC/UNESC de Criciúma/SC.
O projeto "Memória Vinil Filmes", inscrito por Loli Menezes, foi outro a receber a menção. Seu objetivo é a digitalização do acervo da produtora florianopolitana Vinil Filmes, que conta com um acervo de fitas mini DV que reúne aproximadamente 420 horas de material registrado pela produtora em seus 20 anos de atividade.
Por fim, também o projeto “Filmoteca UFSM”, proposto por Taiane Wendland de Souza, também recebe essa menção pela sua iniciativa de criação de um ambiente virtual para acesso e preservação do acervo audiovisual de Santa Maria/RS.

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